Este texto foi publicado no Diário
Catarinense na semana passada
É do
Felipe Lenhart, rapaz que foi meu colega de faculdade e sempre mandou muito bem com as palavras
Gostei muito da
crônica dele pois, além de muito bem escrita, é uma sacada bem diferente de tudo que se falou até agora (e olha que não foi pouco) sobre as enchentes em
SCNada contra o turismo (além do fato de transformar
Fpolis em uma grande central de congestionamentos no Verão), pois é a segunda fonte de renda da cidade
Mas o texto do
Felipe mostra uma visão diferente do assunto
Confira aí
Senhor governador,
Vou me apresentar: sou um turista endinheirado que mora longe da Santa e Bela Catarina. Mas visito o Estado todos os anos. Passo uma semana em Balneário
Camboriú, percorro o roteiro de compras de
Blumenau e
Brusque, vou sempre a uma praia belíssima em
Itajaí, durmo na casa de um parente distante em
Bombinhas e invisto (este é o termo certo) o resto de minhas férias gastando nas boates da moda, nos restaurantes caros, nas lojas de
grife e nos hotéis luxuosos de
Florianópolis. Já estava tudo certo para a minha viagem de fim de ano: passagens compradas, reservas confirmadas, o convite para a festa de
Réveillon aceito. Mas aí veio o cataclismo e tudo que aconteceu semana passada. E é com tristeza que lhe confesso, senhor governador: eu não irei mais a Santa Catarina esse ano, nem nos primeiros meses de 2009. Acredite: me custa muito tomar esta decisão.
Ora, o senhor deve ter lido a edição de ontem do Diário
Catarinense. Eu li, e li tudo, na
internet. Descobri que, neste momento, soldados, bombeiros e voluntários estão nas ruas de Santa Catarina, empunhando pás e picaretas, manejando escadas e
maquinário, guiando
tratores e
caminhões, lutando contra a terra, o lodo e os destroços para desenterrar cadáveres, localizar desaparecidos, salvar o que restou daquele fim de semana tempestuoso. Milhares assistiram ao lar ser destruído e estão desabrigados; outros milhares abandonaram suas residências e estão desalojados. A maioria não tem o que comer e vestir. Alguns perderam familiares e amigos. Quantos mais estão sepultados sob as ruínas? Vou lhe confessar: chorei com os relatos espantosos, emocionados, desesperados. A sua gente está triste, senhor governador, abalada, pobre e enlutada.
É também por isso que lhe escrevo. Para pedir que me esqueça por um ano, senhor governador. Minha visita só atrapalharia. Verão e
Réveillon tem todo ano, mas o que aconteceu em Santa Catarina não deveria sequer ter acontecido, e certamente não poderá se repetir. Portanto, senhor governador, não arrume Santa Catarina para me receber para as festas. Em vez de arrumar, conserte, resolva, dê jeito definitivo no seu Estado, para o seu povo abatido que tanto merece. Você tem muito a fazer pelos seus. Desejo-lhe fibra e sorte.
Com o forte abraço e as condolências do seu cliente mais importante.